segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DO BONITO - SERRA DO RODEADOR - 02

PEDRA DO RODEADOR
BONITO - PE

Dando continuidade aos fragmentos da História do Município do Bonito, no Estado de Pernambuco, transcrevendo os registros constantes em um livro que relata fatos históricos de vários Municípios pernambucanos no período de 1915 a 1919, publicado durante a gestão administrativa do então Governador MANOEL BORBA, teremos a narração sobre a matança indiscriminada ocorrida na SERRA DO RODEADOR que passou pelas atrocidades cometidas, a fazer parte da História do Brasil. Vejamos o que está registrado:

"Ainda é digno de mencionar-se nesse município o horroroso acontecimento do Governo LUIZ DO RÊGO, da grande matança dos habitantes da Serra do Rodeador, crueldades tais, que até Pedro I, em seu manifesto aos brasileiros, assim se expimiu: --- "Pernambucanos lembrai-vos das fogueiras do Bonito". A respeito daqueles fatos, e para torná-los mais sabidos, transcrevemos aqui o trabalho, sobre esse assunto, do Comendador Francisco Benício das Chagas, a quem, em parte, são devidas as informações, objeto deste artigo: ---"Os tristes e lamentáveis acontecimentos dados na Pedra do Rodeador, pelos fins de 1819, mediando entre a Revolução de 1817, que fôra sufocada pelo poder absoluto, e a de 1821, que vingou na invicta de Goyana, foram como que o prenúncio de nossa Independência, que se proclamou no memorável dia 7 de Setembro de 1822, e mostram bem claramente que a reunião dos povos, na Pedra do Rodeador, nesses tempos calamitosos, tinha fins verdadeiramente políticos; e que o chefe de tal movimento, Silvestre, alcunhado - Mestre Quiou, que quer dizer MAIORAL na linguagem dos naturais, não era um simples aventureiro, um impostor e salteador, como se propalou então, durante o governo despótico e violento do General Luiz do Rêgo Barreto. Silvestre não era um impostor, quando ensinava aos reunidos que uma Santa ia falar para mostrar-lhes o que convinha adotar para melhorar a sorte de um povo sofredor; foi isto explicado de pois da Independência pelos patriotas bonitenses, que estiveram em maior contato com o mesmo Silvestre --- E qual era essa Santa que ia falar apontando muitas coisas úteis que um povo sofredor devia adotar? Era certamente a Santa Liberdade, era a Independência do Brasil, independência que, por este tempo, toda a América disputava, e no Brasil, Pernambuco deu os primeiros passos, à custa de muitos sacrifícios.--- A reunião de gente na Pedra do Rodeador deu-se da seguinte maneira:

" Pelo meio do ano até o fim de 1819, quando toda a Província de Pernambuco principiava de novo agirtar-se, resentida das violências e arbitrariedades, praticadas pelo Governador Luiz do Rêgo; apareceu neste lugar, então simples Povoação, com um Destacamento de Soldados portugueses, um misterioso dizendo ser seu nome Silvestre, cuja missão era escolher um Sítio para empregar-se na agricultura. Dias depois, no Povoado, soube-se que esse Silvestre escolhera um rochedo, conhecido por PEDRA DO RODEADOR, e aí estava reunindo gente para que em tempo oportuno ouvisse a uma Santa que ia falar indicando o bom caminho que o povo devia seguir. Dentro de 20 dias o número dos reunidos aumentou consideravelmente; pelo que diversos negociantes da Povoação do Bonito, e com especialidade os portugueses, temendo algum assalto por parte daquele ajuntamento, solicitaram do Comandante do Destacamento que tomasse algumas medidas. Sobre o fato providenciando ele (era português e tinha o posto de Tenente), ordenou por ofício dirigido ao chefe Silvestre, que fizesse dispersar aquela gente, sem perda de tempo pois que, se não o fizesse, por ele Comandante seria tomada a providência necessária a fim de ser desmanchada aquela ilícita reunião,etc. nenhum efeito produziu no ânimo de Silvestre a intimativa do Oficial português, ao contrário e o número de povo crescia de mais a mais, a ponto tal de formar um arraial de casas cobertas de palhas. Silvestre nãs dispondo de recursos para sustentar algumas pessoas pobres que o acompahavam, mandou intimar aos proprietários, e, especialmente.portugueses, que lhe mandasem gado, farinha, milho, feijão, etc., sob pena de, à força de armas, serem satisfeitas suas requisições, conseguindo assim ser atendido, e, muitas vezes, generosamente.

Este fato chegou ao conhecimento do Governador Luiz do Rêgo, certamente com exageo, pois o mesmo Governador mandou, tendo como Chefe da Dilegência o Tenente_Coronal Madureira, português insolente e dado a embriaguês, uma Força para dar um assalto à PEDRA REDONDA. Madureira, saindo do Recife, à frente de um Corpo de Linha, chegou à Santo Antão (atual cidade de Vitória), e aí recebeu outro de milicianos, declarando ele que seu destino era à Pajeú de Flores. Ao aproximar-se do Bonito fez uma negaça, munido de bons guias, internou-se pelas matas em direção ao RODEADOR, onde chegou às 3 horas e meia da manhã, dividindo a gente em dois Corpos, um de Linha sob sua direção e o outro dos milicianos de Santo Antão, sem fardamento militar. e sob o Comando de um Capitão.Um destes Corpos entrou pelo lado oriental do rochedo, e o outro pelo lado ocidental, nas quebradas do qual havia o Arraial composto de choças. O Chefe Miliciano, primeiro que Mdureira, chegou ao Arraial, não se sabendo ao certo de que lado partiram os primeiros tiros, de sedos sitiados, ou se dos sitiantes; a verdade é que houve grande tiroteio, ao qual, acudindo Mdureira, a passo de marche marche, com a escuridão da noite e intervindo no conflito, houve grande carnificina entre as forças legais. A grande população, que ali se aglomerava, pouco teria sofrido, se os Soldados de Madureira não tivessem incendiado as habitações do Arraial, fazendo vítimas das chamas muitos homens, mulheres e crianças, aprisionando e conduzindo para o Recife as mulheres e os meninos que escaparam, sendo soltos depois, porque se reconheceu não haver neles criminalidade alguma. O Chefe Silvestre com alguns companheiros fugiu, sendo que Silvestre foi visto depois em Goyana, fazendo parte do Exército dos Independentes, que tinham seus clubes na cidade do Recife, em outros pontos. Silvestre era de cor morena, estatura ordinária, representando 38 a 40 anos de idade, sabia ler e escrever, era ativo, perspicaz e severo em suas deliberações; nunca disse a ninguém onde nascera, que profissão tinha, nem de que vivia."

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