Fazendo limpeza em livros velhos e alguns outros dos meus alfarrábios, encontramos parte de um jornal, posivelmente do Jornal do Commercio do Recife, com um artigo intitulado "Descendência de Padre", não precisando o autor, e que diz:
" O historiador paraibano Júlio Vieira, ao tomar posse no Instituto de Genealogia e Heráldica do seu Estado --- instituição, de certo, um tanto sofisticada --- afirmou de que muita gente importante no país descende de padres.
Não ficou, apenas, na afirmação genérica, senão que, baseado em suas pesquisas, enumerou alguns exemplos: Afonso Arinos de Melo Franco, ex-governador João Agripino, escritor Wilson Seixas, ex-governador Pedro Gondim, padre José Coutinho, Dom Santino Maria Coutinho e "o sempre lembrado tribuno paraibano João da Mata Correia Lima".
Declarou o novo membro do Instituto que suas palavras não têm caráter de sensacionalismo barato, mas são inspiradas no desejo de informar a opinião pública, dando uma versão exata da história>>>, adiantando que suas pesquisas continuam.
Se a quase totalidade dos exemplos citados pelo historiador cingem-se à personalidades paraibanas --- de certo pela facilidade da pesquisa --- inclui, também, exemplos mineiros.
É possível que hoje, para muitos, a revelação pareça chocante, mas deve-se levar em conta o contexto histórico e social da época e o fenômeno, evidentemente, não é despido de interesse sociológico.
Embora nos exemplos do pesquisador paraibano o fenômeno seja registrado em Minas, parece certo que sua maior incidência terá ocorrido no Nordeste, em função mesmo da estrutura econômico-e-social em que se estruturou aqui, nossa sociedade.
E o fato era tão relativamente comum que, não obstante os rígidos princípios da nossa população interiorana, havia a crença de que "filho de padre" era, particularmente, abençoado e feliz, o que demonstra a tolerância e quiçá o estímulo à tais ligações.
O fato vem sendo colocado em termos históricos, mas não tivessem os padres perdido a importância social e política que gozavam então --- de modo a que sua progênie chegasse a ser importante --- e, por outro lado, não surgissem os anti-concepcionais, talvez os historiadores do futuro voltassem a fazer registro semelhante."
Folheando "ANAIS PERNAMBUCANOS" de F.A. Pereira da Costa, encontramos no Volume VI, páginas 213 à 215, Ano de 1761, o seguinte:
"Delação sobre o deplorável estado a que chegou a Companhia de Jesus nesta Província do Brasil, escrita pelo Padre Bento Pinheiro da Horta da Silva Cepeda, egresso da mesma Companhia, e enviada ao Ministro de Estado, o Conde de Oeiras, pelo Bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Antônio do Desterro. Nesse documento são acusados de viverem em concubinato os padres Domingos de Meira, Pedro da Silva, N. Ferreira e Antônio Paes, que levaram mulheres ao cubículo, e que indo à fazenda do Barreta, as levaram à garupa dos cavalos que montavam. Já o Padre da mesma Companhia Manuel de Almeida, roubou dinheiro do Padre José de Lima para gastar com uma amante, enquanto os Padres João de Sá e Joaquim Ribeiro brigavam pelo amor da mãe de um estudante chamado João da Fonseca. Já o Padre Inácio Gomes transava com a mulher do Feitor da Fazenda Barreta, chamado Antônio de Abreu. Também o padre Antônio Pereira, que foi amante de uma mulata chamada Ana Maria, escrava do Capitão João Costa e dele teve um filho, chamado Marcelino, que era Oficial.
O Padre Seixas, do Colégio de Olinda, teve várias amantes escravas da fazenda Santa Maria Madalena e tinha um filho chamado José de Melo. O padre Manuel Franco, que gostava de dançar "a fôfa" (uma dança muito indecente) tinha uma filha chamada Maria do Ó, com uma mulata de nome Francisca Xavier, mulher de José de Melo, que era carpinteiro. Essa mesma Francisca Xavier era filha do Padre José da Rocha; desta mesma teve o Padre Bernardo Lopes um filho chamado Serafim; e o Padre N. Pinheiro tinha um filho chamado Bernardo. Finalmente o Padre João das Neves, fazendeiro do Engenho de Monjope, do Colégio de Olinda, tinha uma casa de estalagem e uma taberna onde a devassidão predominava. Frei Caneca ao morrer deixou cinco filhos de uma amante. Isto é o que a História nos conta, sem qualquer desejo de ofender às instituições religiosas a que pertenciam, pois estas condenavam esse comportamento humano, especialmente dos seus Sacerdotes e Evangelizadores. Mas fato é fato e contra fatos não há argumentos.
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