sexta-feira, 31 de julho de 2009

GUERRA DOS CABANOS EM PERNAMBUCO


A chamada "Guerra dos Cabanos" entre Pernambuco e Alagoas teve o Município de Panelas como um dos pontos mais acentuados, principalmente por residir alí o líder cabano Antônio Timóteo de Andrade. Foi uma guerra fratecida e de muitas mortes nos dois Estados, culminando com a "Proclamação do Bispo de Pernambuco aos Cabanos" em 1835, uma vez que tal guerra começou em 1832, que por falta de informações muitos pernambucanos e alagoanos do Interior, notadamente de Jacuípe, se insurgiram contra a abdicação forçada de Dom Pedro I ao Trono, e mesmo o Imperador tendo falecido tempo depois, os cabanos lutavam pela volta dele ao Trono Imperial do Brasil, pois a revolta permaneceu até o ano de 1840.


Era nessa época Bispo de Pernambuco o português Dom João da Purificação Marques Perdigão, que morreu no dia 30 de abril de 1864, passando assim 34 anos à frente da então Diocese de Olinda-PE.

A Proclamação foi nos seguintes termos:


"Proclamação do Bispo de Pernambuco ao Cabanos (Sic!)

A todos os nossos amados filhos em Jesus Christo habitantes em Panelas e Jacuípe, saúde e bênção do Senhor Deus que adoramos.

Quam sensível nos tenha sido o vosso procedimento, desde que aberrastes do caminho da retidão, não he fácil comprehender; agora porm por ocazião de prehencherdes o Nosso mais Sagrado Dever (qual o de visitarmos as nossas ovelhas para abençoarmos, e lhes prestarmos os benefícios ao alcance das Nossas atribuições). Prezenciais os effeitos provenientes do exercício das paixões, as mais execrandas, e alheias inteiramente da razão humana. Penetrados das mais pungentes mágoas, que o estado da vossa condenação eterna Nos tem ocazionado, ao qual ansiozamente dezemos occorer, como Nos cumpre. Deliberamos dirigirmos com urgância a vós na qualidade de Vosso Pastor e Pae Espiritual, suplicando-vos façais cessar desde já todas as hostilidades que vos constituem réos na prezença de Deus, que vos ha de julgar segundo os factos que praticardes contra vossos irmãos, a quem deveis amar como o mesmo Deus determina.

Vós, dilectos filhos, não ignorais que faltando a observância dos dois principais preceitos, quais são, o amor a Deus, e do próximo, e nos quais todos os outros se contém, faltais igualmente à observância de todas as Leis: e como vos consideramos dóceis; posto que illudidos, hé do Nosso mais incensial dever instruir-vos nas máximas que deveis praticar, para conduzir à Eterna felicidade. Escutai portanto a voz do Vosso Pastor, perçuadindo-se que este anhela a vossa Salvação, para que em vós não seja frustado o benefício da Redenção que Jesus Christo consumou em Vosso favor quando por Vós derramou o seu preciozissimo Sangue. Que resultado podeis colher da saptisfação de tantas paixões vivendo sem Lei, e aniquilando vossos semelhantes, como tanto e tão grande detrimento de vossa alma? Por ventura deveis ser Eternos neste mundo? Como vos degradais da dignidade de Christão para vos involverdes nos vícios, constituindo-vos filhos das trevas e do erro?Queirais por mais tempo viver na ignorância quando Deus vos chama ao conhecimento da Verdade? Se esta pois não seguirdes, algum dia vos recordareis inultimente do dia em que vos falamos, para evitar a Eterna ruína das vossas almas, que Nos foram confiadas. Nenhum outro arbítrio vos convém, que o de vos converterdes para Deus sempre pronto à mizericórdia, logo que exista perfeita contricção dos delictos perpetrados. Desenganai-vos de huma vez que os sentimentos que vos dominam não são comuns, o vosso partido é já diminuto, nem por muito tempo pode ter sequazes. Os vossos desígnios jamais podem prosperar. Que mais podeis dezejar além do que hoje gozamos? Não possuimos o Sr. Dom Pedro 2, legítimo Imperador de um Império livre, e independente, cujo Augusto Pai he rialmente falecido. Assembléias Legislativas, Geral e Provinciais, e os demais Poderes que o regem pellas Lei Fundamentais? E por que razão não entraremos no gozo da paz, e tranquilidade, a cuja sombra somente podemos felicitar-vos? Não he da vossa mente prolongar mais esta nossa Carta Pastoral, na inteligência em que estamos que vós vos convencerais das verdades que vos anunciamos e somente Nos resta exortar-vos à perfeita obediência ao Governo legitimamente constituído, para que finalize tanta calamidade, compadecendo-vos das vossas espozas, e filhos, a quem deveis tenro amor. Aprezentai-vos às Authoridades dezignadas para vos receberem, e darem a paz concedendo-vos licença ampla para habitarem pacificamente em vossos lares, como o mesmo Governo promete na Proclamação de onze de dezembro do anno próximo pretérito, que vos tem sido enviada, e na qual fundamentamos o nosso saudável conselho. A cédula que (segundo nos consta, pára na mão das Authoridades), designada para ser entregue a cada um de vós, a fim de não serem pertubados, pode convencer-vos da fideliddade de hum Governo verdadeiramente Paternal, que athe agora, longe de ordenar a vosso inexistência, pela força coativa, tem empregado todos os meios para vos conservar.

Viva a Santa Religião que felizmente professamos.

Viva a Nação Brasileira.

Viva o Sr. D. Pedro 2º

Dada na Rezidência Parochial de Porto Calvo aos 6 de fevereiro de 1835

JOÃO, BISPO DE PRNAMBUCO."


*- Publicada à página 219 do Livro "A Guerra dos Cabanos", de Manuel Correia de Andrade e ainda no Livro "História de Panelas-Terra dos Cabanos" de Newton Thaumaturgo.

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