"Há ignorâncias grosseiras, cérebros fechados a tôda luz, almas sem um recanto luminoso. Apenas a vida do instinto: se sofrem, é o sofrimento da matéria; se gozam, é o prazer descidoaos graus mais baixos.
Para êsses, pouca seria tôda a piedade humana; tristes caravanas perdidas, sem ideal, sem norte; realizam a personificação estranha da morte unida à vida, xifopagia espantosa, consórcio estupendo, automatismo funambuslesco.
Mas há uma ignorância vivaz, encouraçada num orgulho vasto. Desconhece. Mas dêsse desconhecer faz a razão da sua fôrça. Quer subir acima da sua fraqueza. E escalando e subindo, desce mais e mais.
Há vozes em todos os tons.
Não podendo negar a existência histórica de JESUS, provada até por escritores pagãos como Suetônio, Tácito, e Plínio, o Moço, e escritores judeus como Josefo, e ainda referido no Thalmud, embora confusamente e sem cronologia--- procuram retirar de JESUS o sobrenatural, nivelá-lo aos simples mortais. O milagre da sua vida e o milagre da sua morte--- serão apreciados, desnaturados até que se revistam de feições peculiares a um ente puramente humano. Afastado êste prestígio, JESUS desceria; e a cega ignorância entoaria o canto do triunfo.
Vem de longe essa treva. Os ensinamentos de JESUS são um contraste com as nossas tendências, com as nossas inclinações mais caras. Para aceitá-los é mister a renúncia: o orgulho, o ódio, todos sentimentos, maus têm que sair, dar espaço a outros sentimentos, melhores. Daí essa luta, de quase vinte séculos.
Dos Gnósticos ao racionalismo de Renan a lista é grande.
Mas deixemo-los.
Imitemos o Mestre.
JESUS tinha infinita piedade pela incomensurável ignorância humana.
Encarnecido, açoitado, pregado na cruz, ao morrer é ainda para êles a sua misericórdia imensa:
---"Pater, dimitte illis: non enim sciunt quid faciunt."
( São Lucas, cap.XXIII, v. 34).
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