segunda-feira, 16 de julho de 2012

CHIQUINHA - A PEDINTE...


     Quem no Brejo da Madre de Deus, nascido há 60 anos atrás, não se recorda de uma pedinte que perambulava pelas ruas da cidade com uma rôta boina à cabeça, pedindo esmolas e contando  a triste história de sua vida?   Quem desse tempo não se recorda das lamentações e das palavras desordenadas que "Chiquinha", uma pobre criatura humana que vivia a implorar a caridade pública?

    Uma decepção passional tornou-a numa débil mental, entregue à propria sorte, sofrendo as agruras da vida, pedindo esmolas e alimentando-se somente um pouco das esmolas recebidas, pois juntava quase tudo que se referia a alimentação, e em lugares ermos e debaixo dos pés de avelozes e de outras árvores existentes outrora na periferia da cidade, mais precisamente por trás das casas de "Avencas"(Av. Cleto Campelo), e distribuia com as galinhas e pintos que não eram seus. E de tanta abnegação com essas aves, elas se acostumaram com "Chiquinha" a ponto de se alimentarem no seu "colo" (colo aqui como se dizia no Agreste e Sertão, era sobre as pernas de quem se encontrasse sentado) e muitas comiam alimentos diversos que colocava em suas mãos.

     Era a felicidade que "Chiquinha" encarava. Ela pedia esmola para si e para os seus "filhos" como alegava. Mas havia um sério problema. É que "Chiquinha" não era dona das galinhas soltas nos quintais e ruas da cidade, pois antigamente se criavam soltas, e muitos pintos novos que as galinhas conduziam morreram "empapados" pelo excesso de comidas dadas por ela, e daí as reclamações das proprietárias das galinhas, e que "Chiquinha" por sua vez nem ligava e tinha algo respeitável que despertava a atenção de muita gente naquele tempo:é que sendo mulher de mais de 50 anos de idade, tida como louca, esmolando, sabia ler e escrever muito bem, e muitas senhoras donas das galinhas não sabiam.

     "Chiquinha" contava sua triste história. Contava que havia sido noiva e ocupava o cargo de Professora Rural quando jovem, lá no Estado da Paraíba, que até certo tempo se limitava territorialmente com o Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, e que fôra traída por uma amiga que fugira com o seu noivo, deixando-a desolada para sempre.

     FRANCISCA MARIA DE LIMA, que ela se dizia chamar, "Chiquinha" passou então a sofrer das faculdades mentais e diante disto, não quís viver mais naquela região do Sertão paraibano, vindo para Pernambuco, vivendo algum tempo na cidade do Brejo da Madre de Deus que era próximo do seu Estado natal.

    Muitas pessoas curiosas que ajudavam a "Chiquinha", davam-lhe pedaços de jornais para que ela demonstrasse que sabia ler e escrever, e "Chiquinha" ainda fazia a leitura corretamente e fluentemente. Tinha ainda a mania de juntar rótulos de carteiras de cigarros vazias e colocava devidamente organizadas sobre à sua cabeça que tinha a proteção de uma "boina" feita de pano que ela mesma conseguia fazer. A garotada adolescente da época não "mexia" muito com "Chiqinha" pois os meninos colecionavam também "carteiras de cigarros" de variadas marcas, e cada uma tinha um valor simbólico para que se apostasse em jogos infantís diversos, as marcas de rótolos mais valorizadas eram dos cigarros:Astória, Victor, Hípicos, Berverly, Selma, Hollyood, Continental, e outras marcas que não recordo.

     Costumavam os adolescentes da época pedir rótulos a "Chiquinha" em troco de comida ou de moedas, uma vez que ela tinha maior facilidade de conseguir esses rótulos, pois andava pelas ruas e becos à cata desses e outros papéis.

    Já velha, subnutrida, desamparada, "Chiquinha" morrera como quase todos os pedintes ou débeis mentais que andam pelas Ruas do Mundo. Que DEUS a tenha na sua Mansão Celestial.

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