"No princípio eram todas tímidas. Não levantavam os olhos nas ruas, mal saíam de casa, casavam por combinação entre os pais. Mas, lentamente e com segurança, passaram a ter alguma voz. E na primeira década do século passado, as mulheres começaram a descobrir o mundo.
Não foi muito fácil. As de classe média que eram obrigadas a trabalhar podiam ser enfermeiras, parteiras ou professoras primárias. As de classe pobre acompanhavam a expansão da indústria: 33,7% do proletariado industrial, em 1920, era constituído por mulheres, nas fábricas de tecidos, confecções e fumo. Trabalhavam 12 horas por dia, em locais insalubres e inseguros, por salários muito baixos.
Essa mulheres eram o tema de Elizabetta Valentini e Laura Brandão, quando o papel feminino na classe trabalhadora começou a ser discutido. Em 1918, a bióloga Bertha Lutz volta da Europa e começa sua luta pela mulher.
Poucos davam ouvidos. Os homens, então, estavam escandalizados com as valsas, polcas, tangos e maxixes de Chiquinha Gonzaga, músicas executadas por Nair de Teffé, esposa do Presidenre da República, ao violão. Ao violão!
Mesmo assim, o movimento avançava. Entre 1901 e 1919, foram registradas 22 greves em fábricas têxteis, onde a maior força de trabalho era feminina. A maior greve de fome de época, 1917, foi iniciada por mulheres no Cotonifício Crespi, em São Paulo.
Elas só queriam melhores condições de trabalho. Mas foi o começo daí em diante, reivindicaram salários compatíveis, tratamento igual ao dado aos trabalhadores, direito de votar. O mundo começava a ter, para as mulheres, uma dimensão bem maior do que os limites das cozinhas e dos quintais de então."
(extraído de "Oitenta anos de Brasil"-1983-Souza Cruz)
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