"É êste o princípio, de modo geral, aceito como verdadeiro em pedogogia. E verifica-se, quase sempre, que "os escolares melhor conformados de corpo (mais pêso e maior estatura) fazem mais progresso do que os de constituição mais débil", no dizer do prof. Léo Burgerstein, da Universidade de Viena. êsse princípio foi submetido a investigação várias, como as de Porter, Schimidt, Kloberg e outros, e julgado verdadeiro. Verdeiro, sim, dizemos nós; não, porém, absoluto, felizmente. Para glória nossa, para glória do Brasil, êsse princípio falhou, justamente na nossa maior capacidade --- RUY BARBOSA, pois nêle o corpo exíguo, deprimido --- era portador de cérebre privilegiado. Argumentarão talvez que o caso de RUY o corpo não se desenvolveu, porque tôdas, quase tôdas as reservas, foram acumular-se no cérebro, tornando-o grande, potente e invejável.
Para mim, RUY foi uma contradição no cenário brasileiro. Começa derrogando um princípio. E a mente sã, saníssima, que ele possuia, se ligava a um corpo senão doente, pelo menos exíguo. Aí, porém, nesse corpo, devia considerar-se a "qualidade". Esta esperava a quantidade. Era forte, não sentido esportivo da palavra, mas forte, capaz de aguentar as longas vigílias, os aturados estudos a que, por imposição do espírito privilegiado, se via coagido. A réplica ao prof. Carneiro é um monumento tão notável, que, ainda hoje, admira como aquêle corpo frágil pôde submeter-se a tal emprêsa, difícil mesmo para uma comissão de eruditos. Na verdade, ao terminá-la, êle mesmo se confessa doente, esgotado.
RUY poderia, talvez, viver mais, se menos se desse às vigílias, nesse impulso em busca do saber. Sacrificou-se, embora morresse já velho, dêsse sacrifício resultou uma coleção de obras soberbas, que, em boa hora, o Sr. Gustavo Capanema vai mandar aos prelos."
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