sexta-feira, 24 de agosto de 2012

"HISTÓRIAS DE CARUARU" - DE AGNALDO FAGUNDES - 1983

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"O Mundo do Major

     Aquele mundo se chamava Beco do Major Sinval. Foi no tempo da Pharmácia Franceza; do Açougue de Coló; da Livraria Brasil; da Alfaiataria Santos; da A Federal; do Salão São Sebastião; do quartinho sujo, desarrumado, acanhado, onde vivia e roncava à noite o inocente Chico de Mãe. Grandalhão de algumas arrobas de peso. Boné sabento à cabeça, paletó surrado no corpanzil, gravata amarrotada no pescoço. Tornou-se conhecido pelas mentiras que pregava, ora no plantão da Farmácia do Major Sinval, ora no serão da Farmácia de João Napoleão. Nunca deu um dia de serviço a homem nenhum. Repetia sempre que se trabalho valesse alguma coisa o jumento seria o maior personagem da História da Humanidade. Calango, espirituoso e irreverente, selecionou-o para Secretário da Agricultura, em meio a Antônio de Zumba, Chico - irmão de Pedro Brabo- e outros da mesma laia.

     Chico de Mãe morreu. Seu Aniceto de A Federal seguiu o mesmo caminho. Major Sinval mudou-se para a rua Amarela, onde se encantou. Coló largou-se para o Rio de Janeiro. Sebastião Barbeiro para o Recife. Desapareceram a Livraria de Rodolfo Monteiro; a Barbearia e a Alfaitaria dos dois Sebastiões. O Beco foi, assim, se descarectizando. Depois começaram a chamá-lo de Beco da Estudantil ou da Pequena de Ouro. Mais tarde veio o pior: fizeram-lhe uma operação. Desmoralizaram-no. Mudaram-lhe o sexo. Não é mais Beco: é Travessa.
   
    Em certa época, ponto preferido para o bate-papo. Os estudantes ficavam matando o tempo nas folgas das aulas. As vezes matavam as aulas na folga do tempo. Na opinião de muitos, o Beco do Major Sinval era uma "xerox" da Rua do Ouvidor. Modéstia à parte." 
(Ítem 8 do livro acima citado de Agnaldo Fagundes)

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