quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"ANAIS PERNAMBUCANOS"- NOTA DO EDITOR


     "Em seu editorial de 11 de outubro de 1861 o  Diário de Pernambuco indaga: "Teremos nós uma história propriamente nossa, propriamente pernambucana?"

    No mesmo artigo, responde o editorialista: "Temo-la, sem dúvida. O que falta porém, em grande parte, é fazê-la conhecer em suas fontes primitivas, desencavá-la, por assim dizer, dos depósitos de remotíssima data em que ela se acha encerrada; examiná-la, analisá-la em suas desenvoluções e frases diversas; e trazê-la, com o auxílio da indagação filosófica e da cultura prática, à inteira luz da publicidade.

     Apesar de Pernambuco haver possuído grandes cronistas, como Frei Antônio de Santa Maria Joaboatão, (1675-1779), Dom Domingos do Loreto Couto(c 1696 c 1762), Antônio José  Vitoriano Borges da Fonseca (1718-1786), só para citar estes expoentes dos estudos históricos no século XVIII, o século XIX era ainda carente de uma pesquisa histórica sistemática. Um trabalho que apresentasse um perfil completo da História de Pernambuco, desde o seu passado mais remoto, numa maneira didática e compreensível a todos os que viessem interessar-se pelos estudos pernambucanos.

    Coube a FRANCISCO AUGUSTO PEREIRA DA COSTA, um recifense do bairro de Santo Antônio, nascido na então Rua Bela(hoje, Uchoa Cintra) em 10 de dezembro de 1851, atender os reclamos do editariolista do Diário de Pernambuco. Iniciando-se nas pesquisas históricas a partir de 1875, Pereira da Costa dedicou toda a sua vida a vasculhar o passado de sua Província natal.

    No dizer no Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, "ele leu e remexeu quase tudo: manuscritos, coleções de documentos e de jornais, as crônicas antigas. Deve-se considerar ainda que as pesquisas documentais que ele realizou sozinho, em perto de cinquenta anos de trabalho ininterrompido, ninguém conseguiu refazer no seu conjunto."

     Foi ele o primeiro a realizar pesquisa sistemática nas bibliotecas e acervos de documentação manuscrita existentes em Pernambuco, tanto oficiais, como religiosos e até  privados.

    Nas suas pesquisas não desprezou a tradição oral, ouvindo depoimentos de pessoas mais velhas e coletando questionários, as coleções de jornais dos mais diversos e tradição popular, estas duas últimas fontes foram por demais importantes na elaboraçãodo seu FOLK-LORE PERNAMBUCANO e VOCABULÁRIO PERNAMBUCANO.

     De formação típicamente recifense FRANCISCO AUGUSTO PEREIRA DA COSTA foi sempre um autodidata, não tendo oportunidade de consultar os arquivos do ultramar, particularmente os de Portugal e Espanha, comparando-se, certa vez, a um "rude mineiro que desce às profundezas da terra, extrai o diamante informe, cheio de impurezas, e o entrega ao perito e paciente lapidário para lhe dar brilho e valor."

     Iniciando-se no serviço público em 1871, na Repartição das Obras Públicas; em 1880 foi encarregado pelo Presidente da Província de coligir documentos para figurar na Exposição  de História do Brasil, a realizar-se no Rio de Janeiro(dezembro, 1881); em 1886 apresentou relatório sobre a situação dos livros e documentos existentes nos mosteiros e conventos de Olinda e do Recife;em 1884 tranferiu-se, por curto período, para a Província do Piauí onde passou a exercer as funções de Secretário Geral, atendendo convite do Governador F. Theodorico de Castro e Silva;  integrou o Conselho Municipal do Recife, no período de 1884 a 1891; formou-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1891;Deputado Estadual em 1901, sendo reeleito por várias legislaturas; fundador da Academia Pernambucana de Letras(1901), foi sócio de várias instituições culturais brasileiras.

     Ingressando para o Instituto Arquealógico Histórico e Geográfico Pernambucano, em junho de 1876, Pereira da Costa toma gosto pelos estudos históricos e por toda a sua vida dedicou-se unicamente à pesquisa. Além destes ANAIS PERNAMBUCANOS, que reúnem 5.566 páginas em seus dez volumes, Pereira da Costa publicou mais 182 trabalhos sobre os mais diversos temas ligados aos estudos regionais, reunindo no seu tempo a mais rica bibliografia escrita por  uma só pessoa em Pernambuco.

     Durante perto de cinquenta anos FRANCISCO AUGUSTO PEREIRA DA COSTA, dedicou o seu tempo aos objetivos de publicar um "Dicionário histórico, geográfico  estatístico da Província de Pernambuco", que pelas contingências por ele expostas no Prólogo deste volume veio a ser transformado  nos ANAIS PERNAMBUCANOS. Coube á Assembléia Legislativa do Estado, em sua sessão de 9 de março de 1922, aprovar projeto do deputado Faria Neves Sobrinho autorizando o Estado de Pernambuco editar os Anais Pernambucanos. O projeto foi convertido em Lei de nº 1483, de 15 de abril de 1922, que autorizava o Estado de Pernambuco pagar ao autor a quantia de quinze contos de réis pela entrega do manuscrito da obra.

     Com muita protelação foi o dinheiro entregue ao autor, que conta a história desta primeira fase dos Anais no Prólogo desta edição, com data de 20 de setembro de 1923.

     --- Pereira da Costa veio a falecer no subúrbio dos Afagados, em 21 de novembro de 1923, deixando os seus ANAIS, segundo as próprias palavras, "esperando, desesperando mesmo pela sua impressão, como cristãos dalém túmulo pela Resurrectionem mortuorum".

     Por quatorze anos (1937-1951) os originais destes Anais Pernambucanos estiveram no cofre da Biblioteca Pública do Estado, sob a vigilância do seu benemérito Diretor Olympio Costa Júnior, que os recebera das mãos de Carlos Augusto Pereira da Costa (filho do autor) escritos em tiras de papel-almaço e dispostas em treze caixas de charutos.

    Coube ao Governador Agamenon Magalhães, atendendo proposta do então Diretor do Arquivo Público Estadual, Jordão Emerenciano, dentro das comemorações do 1º Centenário de Pereira da Costa, enviar projeto à Assembléia Legislativa Estadual, através do então Deputado Nilo Pereira, abrindo crédito especial para a publicação dos ANAIS PERNAMBUCANOS. O projeto foi transformado na Lei nº 1108, sancionada em 19 de julho de 1951, dando início á publicação da obra.

     --- A impressão da mais importante obra de F.A. Pereira da Costa levara quinze anos para ser concluída.

    Face a tão dilatado período e a forma através da qual foram atribuídos os dez volumes dos ANAIS PERNAMBUCANOS, a obra é, em nossos dias, raridade bibliográficas privilégio de algumas pessoas e sonho das novas gerações de interessados nos estudos regionais."
(Editor:  Escritor e Jornalista Leonardo Dantas Silva
Nota: fui um dos subscritores para receber mensalmente um dos dez Volumes publicados.)

  

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