terça-feira, 4 de agosto de 2009

HISTÓRIA DO BREJO DA MADRE DE DEUS - 02- LAMPIÃO E O PADRE


O PADRE TEVE ENCONTRO COM 'LAMPIÃO"


Uma história que merece registro são fatos não religiosos que aconteceram na vida sacerdotal do Cônego Antônio Duarte Cavalcanti. Homem das mil e uma atividades: motorista, eletricista, musicista, compositor, cantor sacro, excelente mágico, hipnotizador, marceneiro, pedreiro, filatelista e várias outras profissões. conhecia bem os idiomas francês, latim e português. Chegou a ser premiado pela composição de um Hino para um Congresso Eucarístico Nacional. Adorava nos seus eloquentes discursos ou sermões, adotar as famosas cabalas grego-romanas. Era um orador de escol. Muidou-se, já aposentado de suas funções religiosas para a Cidade do Recife onde veiuo pouco tempo depois a falecer, isto em 1993.

Quando Vigário de Floresta, na década de 30 do Século passado, certo dia, involuntariamente, teve um encontro com o famoso cangaceiro Virgolino Ferreira, LAMPIÃO, o Rei do Cangaço, bem como com MARIA BONITA, com Antônio Ferreira irmão de Lampião e outros cangaceiros. Tudo aconteceu quando no ano de 1933 tomou o seu automóvel modelo 1928, de cor vermelha, juntamente para prestar assistência religiosa a um fazendeiro que desejava confessar-se e comungar, pois encontrava-se enfermo, com o então Padre Duarte, o seu Sacristão e compadre posteriormente. Aconteceu que o carro não podia chegar até a casa do fazendeiro doente, a estrada não oferecia condições de tráfego de automóvel, principalmente naquela época de poucas veículos motorizados no sertão e quase todas as cidades do Interior, porém, onde a estrada terminava para veículo, tinha que se viajar sobre cavalos, deixando o veículo na casa que oferecesse maior segurança. E assim fizeram, no entanto, tomaram caminho errado, entrando por uma vereda, e por mais que andassem não avistavam a casa da fazenda pretendida. Notaram que estavam "perdidos", mas voltar já não adiantava, o mais viável era prossiguirem até encontrar uma pessoa ou casa de residênia para pedirem informações seguras. Mais adiante se depararam com um homem armado com rifle, que gritou:

"Alto lá, quem vem aí?"

O Padre Duarte conheceu logo se tratar de um cangaceiro e foi dizendo:

" É de paz. Quem está aqui é o Vigário de Floresta do Navio.

O Padre Duarte e o seu Sacristão."

O cangaceiro determinou que se aproximasse. E era já três horas da tarde de uma quinta-feira do mês de novembro de 1933.

O Padre e o Sacristão chegaram para perto do homem armado, e como o Padre estava com um "Pára-pó" ( capa que proteje da poeira), o cangaceiro indagou: "O senhor é Padre mesmo, cadê a batina?" O Sacerdote en apreço desceu do cavalo, tirou a capa, mostrando a batina e a "crôa" raspada no centro da cabeça. Foi aí que o Padre Duarte, receoso, perguntou arriscando sucesso no diálogo com o fóra da lei.
"Eu desejo falar com o Capitão Virgulino, por favor

avise pra ele, diga que é o Vigário de Floresta."

O cangaceiro deu um forte assobio e logo apareceu um outro homem armado, que levou o recado a Lampião e em pouco minutos chegaram outros dois com a recomendação de só o Padre ir até lá, o Sacristão não, ficasse esperando onde estava.

O Padre entrou catinga à dentro e viu de trinta em trinta metros, aproximadamente, um homem armado montando guarda. Chegando ao "Acampamento" onde Lampião estava e que veio ao encontro do Padre pedindo-lhe com voz aguda: "à bênção seu Vigário", o que fortaleceu muito o Padre Duarte.

Em seguida mandou o Vigário sentar sobre um tronco de uma árvore caída e começou a indagar conversando, especialmente porque o Padre havia ido ali, tendo o Padre contado toda a história da viagem que empreendeu, pelo que Lampião lhe disseta: "Eu já vi de longe montado numa "baratinha encarnada." Depois começou a falar sobre os seus inimigos de Floresta, um por um, até ficar irritado e proferir palavrões sem respeitar o Padre, e quando falou sobre "Siato" (Fortunato de Sá Gominho) seu inimigo capital, ficou tão furioso que se levantou com um punhal à mão, tendo o Padre Duarte nesse momento rezado intimamente o Ato de Contrição, pensando que Virgolino (Lampião) ia matá-lo, mas era a sua maneira de ser quando zangado. Tirou do embornal que conduzia à cinta um pedaço de "fumo de corda" e começou a picá-lo para fazer um cigarro de palha. Aliviado, mas trêmulo, o Padre voltou a conversar. Lampião tinha muita raiva de "Siato" porque este nunca atendeu aos seus pedidos e ainda influenciava comerciantes de Floresta a não dar nada a Lampião, e na obra de Luiz Wilson, "Roteiro de velhos e grandes sertanejos", volume II, à página 552, diz:

" Quando Virgulino encontrava, então na estrada uma tropa de burros ou um caminhão com mercadoria para "A Nova Aurora" (representante em Floresta de vários Bancos, entre os quais o banco do Brasil), mandava botar a carga abaixo e tocava fogo no que era de "Siato".

A certo momento o Padre Duarte perguntou a Lampião:

"Capitão, eu gostaria de lhe oferecer umas carteiras de cigarros que tenho no alforje que está no meu cavalo, bem assim, uma medalhas de Nossa Senhora da Conceição, que pretendo benzer e lhe presentear."

Lampião deu um grito e chamou um dos seus homens, dizendo-lhe: "Obedeça a "Sêo" Vigário." O Padre transmitiu ao cangaceiro que fosse até onde se encontrava o Sacristão e que trouxesse as carteiras de cigarros da marca "Selma" e as medalhas, o que momentos depois chegavam às suas mãos.

Ao proceder a bênção das medalhas, Lampião chamou todos os cangaceiros e mandou que cada um ao receber a medalha do Vigário, lehe tomasse a bênção e beijar-se a medalha para protegê-los. E assim foi feito, todavia, Maria Bonita apressou-se em pegar uma medalha, pelo que Lampião deu-lhe um tapa na mão, mandando que ela tivesse modos, pois o Vigário vai entregar para todo o mundo.

Quando foi fumar dos cigarros recebidos, deu um para o Padre fumar primeiro, depois é que se serviu. Antes de escurecer totalmente, Lampião mandou dois homens ir levar até a estrada que dava para uma outra onde bem peerto estava a casa do fazendeiro a quem o Padre ia receber a sua confissão, porém, antes, cochichou com os dois cangaceiros, e o Padre quando estava sendo levado foi rezando calado todo o caminho, pois não sabia que ordem haviam recebido de Lampião. Ao chegar onde desejava, juntamente com o Sacristão, deu graças à deus e resolveu oferecer de gorgeta dez mil réis a cada cangaceiro, o que era muito dinheiro àquela época, foi quando em voz alta e zangado um deles dois perguntou ao Padre:

"Padre o senhor obedece ao seu Bispo?"

O Padre respondei que sim. E ele concluiu: "Eu obedeço também ao meu Capitão> O senhor não viu quando ele me chamou e falou em segredo comigo, foi para dizer que não recebesse nada do senhor."

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