quarta-feira, 11 de julho de 2012

"NEGA-TE A NOSSA MALDADE"


      "No fundo obscuro das almas o Mal se instala. A sua luz--- um clarão sardônico--- dá às coisas tonalidades estranhas. Mas o Mal, por vezes, é velado e cauto. Arrasta-se, a princípio, nas profundidades do suconsciente, coleando, pegajoso, como um verme enorme. A Consciência, por fim, compraz-se  na convivência do estranho hóspede. A Bondade, há muito, fugiu espavorida. A princípio houve uma surda luta: o Mal recuara, ferido, e uma claridade celeste enchera tôda a alma. Todavia, tudo passara. A claridade desaparecera. O mal vencera. E o que ficava, o que permanecera--- era o clarão sardônico, aquele colear viscoso de verme dentro da alma escura. Únicamente a covardia, concubina dileta, lá ficara, satisfeita, no contubérnio torpe.

     Se o mal, apossando-se das almas, instalando-se nas consciências, desnatura-as, dá-lhes uma luz que lhes deforma as cores ambientes, como seriam possíveis as afirmativas da bondade? Sobretudo, como seria possível reconhecer a própria Bondade, a Bondade Suprema?

     Naqueles tempos, a humanidade vivia num triste arrastar. As horas passavam, sucediam-se reglarmente as estações. Mas a esperança era morta. E ao monótomo findar de cada existência, sòmente a tristeza da torrente levando a vida para o nada.

     Era o obscurantismo das almas. A dor, nos circos de então, fazia rir como os clows nos circos de hoje.

     Mas se então era assim, vinte séculos depois, a maldade, por vezes, continua a mesma. A mesma cegueira das almas, a mesma obliteração do sentimento. E, negando Aquêle que é a própria Luz, negam-no, simplesmente porque a sua natureza é um antagonismo flagrante com a natureza das almas dominadas pelo mal. Negam-no, repudiam-no ainda; e, como os judeus outrora, seriam capazes de, aos gritos, em tumulto, sanguissedentos, clamar na pra pública: Crucifige, crucifige eum!

(Texto extraído das páginas 93/94 do livro "Nossa Missão- Estudos e Comentários", de Soares de Farias- 1961- São Paulo-SP) Ruy Barbosa-
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário