Quando da assunção ao Poder em Pernambuco pelos integrantes da então União Democrática Nacional - UDN, com a eleição do Engenheiro Cid Feijó Sampaio ao Governo do Estado de Pernambuco no ano de 1958, tendo tomado posse no dia 31 de janeiro de 1959, muitos Municípios do Interior passaram a ter uma vida política completamente estranha, uma vez que os partidários do então Partido Social Democrático - PSD, não conheciam o outro lado da política, isto é, nunca estiveram "debaixo", pois pertencer a UDN era mesmo um sacrifício muito penoso, coisa de idealista.
No Brejo da Madre de Deus era líder e chefe político do Partido do Brigadeiro Eduardo Gomes(UDN) o Sr. Abílio Telmo da Rocha Barros, descendente de português casado com uma brejense da tradicional família Araújo ( sobrinha do fundador das "Casas José Araújo). Homem generoso, de coração flexível até para com os seus maus ferrenhos adversários. Do outro lado, chefiando o PSD no Brejo, desde a redemocratização do País, estava o Sr. Benedito de Souza Dantas, Tabelião Público, homem inteligente, corajoso, sério e honesto, vindo do Município de Flôres, no Alto Sertão, onde militou também como político pessedista. Ainda havia na década de 50 os integrantes do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, que eram liderados pelo Sr. Severino Salustiano de Farias, chamado apenas por Farias, que era Chefe do Posto de Monta do Estado em Brejo. Homem calmo, diligente e capaz.
O clima político na década de 50 esteve muito "quente", pois, mesmo sendo genro do chefe udenista Abílio Telmo, o então jovem Bacharel em Direito, Antônio de Souza Dantas, mais conhecido pelo apelido de "Antonino", filho este, do chefe pessedista Benedito de Souza Dantas, havia sido eleito Prefeito do Brejo da Madre de deus, e eram ferrenhos adversários , tendo no entanto, a chegarem ao diálogo e a compreensão por alguns meses. Aconteceu que, face a discordância surgida com a não aceitação pelo Prefeito Antonino Dantas, de considerar através de Lei, uma área de terra do Município como "Travessão", isto é, lugar onde não se podia criar gado bovino sem a existência de cercas que protegessem as lavouras de milho, feijão, etc.
Com o pensamento contrário ao do sogro, o Prefeito passou a receber muitas pressões políticas dele, pois Abílio Telmo era Vereador e Presidente da Câmara Municipal. A UDN contava apenas com dois Vereadores: José Cupertino de Souza ("José Candu) e o próprio Abílio Telmo. Já o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, contava com três Vereadores: Severino Salustiano de Farias, João Bernardo Torres e Manoel Cassiano da Silva, e o Partido Social Democrático -PSD contava com quatro Vereadores: José Higino de Souza, José Nunes de Souza, Abel Rodrigues de Freitas e o seu irmão Orestes Rodrigues de Freitas. Os Vereadores do PTB liderados pelo Vereador Severino Salustiano de Farias, aliaram-se aos Vereadores udenistas e assim, passaram a ser maioria no Legislativo Municipal do Brejo da Madre de Deus, e consequentemente, oposição sistemática ao Prefeito Antonino Dantas. Todos as Mensagens, Projetos, pedidos de verbas com abetura de créditos suplementares, etc. solicitados pelo Prefeito eram derrotados, pois as votações sempre apresentavam os seguintes resultados: 4 a favor e 4 contra, e o Presidente da Câmara que era Abílio Telmo, dava o seu voto de minerva derrotando, é lógico, os pedidos do Chefe do Poder Executivo Municipal que por sinal era seu genro. Foi aí, que, no ano de 1953, as coisas ficaram feias no cenário político do Brejo. O Dr. Antonino Dantas por sua vez, suspendeu a coleta de lixo público na cidade, até mesmo o lixo resultante da feira pública do sábado, acumulando-se nas ruas principais e ninguém se atreveria a tentar retirá-lo, mesmo a título de colaboração. A cidade ficou triste e feia.Ninguém dava um passo atrás para solucionar o impasse. As pressões aumetavam de lado a lado. Depois do lixo, surgiu a escuridão. O Prefeito não dispunha de verba orçamentária para comprar óleo diesel para o Motor que fornecia energia elétrica a toda a cidade, tanto a pública como a residencial. As obras paradas, o lixo aos montes nas ruas, onde ajuventude fazia queimar pedaços de pneus velhos de carros, e vez por outra ateavam fogo nos montes de lixo. Era um quadro desolador para os habitantes do Município.
Esperava-se a qualquer momento, coisas piores, brigas e mortes, pois não havia nenhum plano para um apaziguamento das partes conflitantes. E como se previa, o pior aconteceu na tarde do dia 12 de fevereiro de 1953, no recinto da Câmara Municipal, onde acirradas discussões, motivadas inicialmente quando o Presidente da Câmara Abílio Telmo passou a presidência ao Vice-Presidente Vereador Oreste Rodrigues de Freitas, indo para o Plenário, tendo o Vereador Oreste de Freitas se recusado de assumir a Presidência, sob a alegação de que se tratava de um "golpe", pois se assim acontecesse, a bancada do PSD ficaria desfalcada do direito de um voto, pois àquela altura, muitos políticos da cúpula em Brejo, sabiam os planos de ambas as facções, isto é, situação e oposição. A bancada do PSD era composta por 4 Vereadores, precisando apenas de mais um, esse um, já estava certado com um Vereador do PTB que votaria no PSD, isto porque sendo este proprietário de uma panificadora no Brejo, precisava da concessão de uma "QUOTA" para adquirir farinha de trigo para o seu comércio, pois, a farinha com que vinha industrializando era comprada no "câmbio negro", isto é, através de panificadores que obtinham elevadas Quotas, e as vendiam por alto preço a donos de padarias do Interior do Estado.
A Quota do Vereador que votaria no PSD já estava arrumada no Recife, além de uma ajuda financeira, era o que se comentava em toda a cidade, nos meios políticos notadamente. Mas os sagazes políticos da UDN e PTB armaram um contra-golpe e funcionou. Conseguiram que o mesmo Vereador fosse ao Recife para conseguir a sonhada Quota de farinha de trigo, que já havia conseguido com os pessedistas e não podia revelar aos udenistas. No Recife, armaram um plano, e mandaram (os udenistas) que o Vereador assinasse vários documentos e em meio a estes uma folha em branco, que foi posteriormente datilografada com um pedido de renúncia do dito Vereador, e com firma reconhecida. Era por tudo isto que o Presidente da Câmara Vereador Abílio Telmo, queria passar a presidência para o Vereador Vice-Presidente Oreste de Freitas, que se tivesse aceito perderia a bancada pessidista um voto, ficando a Oposição com 4 Vereadores em Plenário e a Situação com 3, pois um seria afastado logo que o Vice-Presidente assumisse.
Porém, o Vereador Orestes de Freitas não quís assumir, voltando o Vereador Abílio Telmo à presidência, foi quando o Vereador comprometido foi afastado do cargo com a apresentação do pedido de renúncia, e o Vereador Severino Salustiano de Farias lendo dispositivo do Regimento Interno, que embora inédito na palarmentarismo brasileiro, obrigava ao Vereador Vice-Presidente da Câmara, que quando reusasse assunir a Presidência, teria que se afastar da Reunião da Câmara. Os ânimos ficaram exaltados e as ofensas morais e f´sicas surgiram, quando o Vereador Abel Rodrigues de Freitas, irmão do Vereador Orestes, agrediu ao Vereador petebista Severino Salustiano de Farias (Farias como era chamado), puxando-lhe os cabelos, e este esbora um homem reconhecidamente pacato, revidou com um tiro certeiro de revólver 38 na fronte do Vereador Abel, que teve morte instatânea. Em seguida foram deflagrados outros disparos de armas de fogo, saindo ferido o Vereador Abílio Telmo e minutos depois o Vereador Severino Farias fora preso já fora dorecinto da Câmara no Consultório Médico do Dr. Jaur cavalcanti, pelo Cabo de Polícia chamado Cícero e o Soldado Genésio, só se entregando depois que recebeu sob palavra de honra de que não seria linchado, pois do contrário, preferia lutar e morrer sem covardia.
Foi em seguida conduzido à Cadeia Pública local, e ainda no percurso recebeu apoio de um cunhado chamado Joel Campos, que inclusive chegou a empurar um Soldado que estava querendo maltratar fisicamente Farias.
Após a morte do Vereador Abel de Freitas o Juiz de Direito da Comarca, Dr. José Nery de Souza, pessoalmente estabeleceu a ordem, garantindo a integridade f´sica do Vereador Farias e tomando as medidas preventivas e convenientes.
Logo depois de haver sido vitimado o seu irmão, o Vereador Orestes de Freitas, estava tão atribulado que de revólver à mão, não quis fazer uso do mesmo, preferindo entregá-lo ao Sr. Enoch Cordeiro, que o levou para casa, entregando-o depois.
O Vereador José Higino de Souza, que tendo usado no tiroteio a sua arma (Parabellum) contra Farias, quando este saía da Câmara para se homisiar no Consultório Médico do Dr. Jair que ficava anexo ao prédio da Câmarae que graças a uma topada que Farias levou no exato momento, e que lhe salvou a vida, deu a impressão ao Vereador José Higino de qe havia alvejado mortalmente a Farias, tendo saído em desabalada carreira, a fim de evitar serpreso em flagrante, indo parar num morro que fica perto da igreja Matriz de São José. Mas como estava de terno branco, muitas pessoas puderam lhe ver amparado por espessas árvores pelo contraste das côres verde e branco da roupa. Um amigo dele foi lhe chamar dizendo-lhe que a queda de Farias foi motivada por um tropêço e não por ferimento à bala. José Higino tranquilizou-se e foi para a casa do Chefe pessedista Sr. Benedito de Souza Dantas.
Outros fatos que merece ser registrado entre vários, a exemplo do corte que o Vereador Manoel Cassiano levou quando se dirigia para a residência do Vereador Farias, esse pequeno corte foi numa pedreira que havia por trás do prédio da Câmara e ele na hora pensou que estivesse baleado, mas o Médico constatou que não havia projétil nenhum. Os Vereadores José Nunes e João Bernardo, ambos residentes em Fazenda Nova, saindo pelos fundos do prédio da Câmara, que se localizava na Rua Da Liberdade, defronte ao prédio que servia de residência de Coletor Estadual, hoje Exator) a fim de que não fossem atingidos, resolveram pular o muro para a casa vizinha e caíram encima de um "galinheiro". Já o Prefeito Antonino Dantas logo após a triste ocorrência, de revólver em punho se dirigiu à Câmara e a sua genitora indo acalmá-lo e trazê-lo de volt, ao se aproximar, este sem que a tivesse notado, deu um tiro para cima, e dona Adelaide teve um síncope, um desmaio, e algumas pessoas afastadas pensaram que ela tivesse sido atingida pela arma deflagada. Foi um inferno aquela tarde de 12 de fevereiro de 1953. O Sargento Abel Wanderley, Delegado de Polícia em Brejo, logo que tomou ciência dos fatos, saiu com rifle calibre 44 (Winchester) à mão e calçado apenas de meias, pois esta descansando em sua residência. Enquanto isto, o Tenente Domingos Cururu, como era conhecido, tido como homem valente, especialmente pelo comando que exerceu de "Volantes Policiais" no tempo de combate aos cangaceiros e ladrões de cavalos, morava numa propriedade rural adjacente à cidade do Brejo, chamada "Cacimba de Pedro", e logo que lhe avisaram rumou para a casa da esposa de Farias, montado a cavalo e com rifles de lado. Era um grande amigo de Farias. Horas depois, chegava ao Brejo um reforço policial sob o Comando do Major Natanael Carvalho, então Delegado de Polícia de Caruaru.
Depois, para segurança do preso, Farias foi transportado para a Cadeia de Caruaru. O sepultamento do Vereador Abel de Freitas foi realizado no Distrito de Pesquira chamado Mutuca, onde o mesmo era proprietário e pecuarista e líder político.
Tendo sidoimpronunciado sob a alegação de não ter havido prova de autoria do disparo que matou Abel, o Vereador Farias foi residir no Rio de Janeiro, onde chegou a exercer altas funções da então SUPRA, órgão do Ministério da Agricultura no Governo João Goulart, não voltando mais ao Brejo da Madre de Deus. Muitas vezes quando queria mandar mensagens aos amigos, fazia Farias através de cartões postais com gravações magnéticas das mensagens, muitas das quais endereçadas ao seu amigo Amaury de barros Correia, farmacêutico em Brejo e proprietário da Farmácia São José.
Depois de tudo isto, a solução apareceu com o Dr. Antonino Dantas renunciando ao cargo de Prefeito, e submetendo-se à Concurso Público, tendo obtido êxito e nomeado Juiz de Direito, vndo falecer muitos anos depois como Magistrado na Cidade do Recife.